domingo, 31 de outubro de 2010

So long, suckers


I won't be the last

I won't be the first

Find a way to where the sky meets the earth

It's all right and all wrong

For me it begins at the end of the road

We come and go...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Estou muito cansada, hoje

Vocês são tão saudáveis
Estão no vosso perfeito direito de o ser

Não, não sou de gargalhada fácil
Nem de estabilidade simpática
Não sou moldável, apetecível ou afável

Sou isto, sou só isto.
Deixem-me ser

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Debaixo da roupa, estamos todos nus

"(...)Eu compreendo estas pessoas, tanto os putanheiros que negoceiam Mercedes, como as senhoras que comem palmiers na confeitaria. Compreendo até os dermatologistas. À sua maneira, cada um deles se sente rejeitado pelas minhas tatuagens e pelos meus piercings. Acreditam que eu não quero ser como eles, não quero ser eles. Têm de responder de alguma maneira a essa rejeição. É-lhes fácil encontrar falta de sentido em furar o corpo com uma agulha e colocar um pendente metálico ou em preencher uma parte da pele com cicatrizes cheias de tinta. Uma pergunta que também me fazem, visivelmente baralhados, é: porquê?
As razões não são simples e são demasiado íntimas. Não tenho de dá-las. Talvez seja necessário ser eu, estar no meu lugar e ter o meu nome para entendê-las por completo. Essa é a natureza da pele. Para nós próprios, a pele é aquilo que nos protege, a fronteira entre a nossa presença e o mundo físico, o aparelho sensível que capta a percepção daquilo com que interagimos. Para os outros, essa mesma pele é a nossa superfície, a aparência. E, já se sabe, a aparência é tão enganadora, a superfície é tão superficial.
Também é comum admirarem-se com o carácter definitivo das tatuagens, perguntarem-me se não tenho medo de me arrepender. Sorrio. Emociono-me com a inocência daqueles que não percebem que tudo é definitivo e deixa marcas. Eu escrevo livros. Sei que tudo é definitivo e nada é eterno.
(...)
Em casa, tomo banho. A água morna na minha pele. Deslizo as mãos pelo meu corpo. É meu. Estou dentro dele."

José Luís Peixoto

ON/OFF

Eu vivo numa realidade paralela
Conecto-me aos outros porque é uma conexão necessária
Dela, nunca me desconecto
Nunca é possível

A automatização deste mecanismo é algo de sobrehumano
E quando penso desligá-la habituo-me a continuá-la
Acostumei-me a ter estas vozes por companhia absoluta
E o silêncio universal nunca me existiu

Arrotinei-me a viver
Todos os dias a viver
Todos os dias
Todos...Todos os dias

Elas arrotinadas estão
E, todos os dias, caminham ao meu lado
Esperando ansiosamente que chegue a casa
Que fique sozinha
Só para lhes dar atenção

Eu, mundana, concisa, real
Habituo-me a ouvi-las
E a deixá-las passar
Pelo resto do mundo

Eu, idealista, abstracta, projecção
Dou-lhes ouvidos
Atribuo-lhes forma e credibilidade
Pelo meu futuro

Eu, ídilicamente, acho-vos possíveis e realizáveis
Eu, realmente, renego-vos ao metade de nada



Por vocês serem o Universo
Eu obrigo-me a transformar-vos na minha casa
Por vocês serem impraticáveis
Eu obrigo-me a anular-vos


Vocês são, e serão sempre, a minha realidade
Porque sem vocês a realidade dos outros seria bastante mais negra
Mas deixem-me em paz, por favor
Que já não consigo viver comigo

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

The Great Gig in The Sky

Contempla o poder astronómico de te autodestruíres
Subdividires-te inconscientemente em transcendências atómicas só para te assustares.
Cresceres em pó das estrelas, porque no fundo é disto que todos somos feitos.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Casa

Talvez porque te queira definir demasiadas vezes deva começar de forma substancialmente banal: “A casa é onde o coração está”.

Já debitei. Agora

Assumes-te como um espaço, como um ser, um estado de espírito.

Transformas-te, lentamente, numa conquista e amadureces, depois, para uma obsessão. Eu acompanho-te, ao longo do caminho, porque preciso de te viver por dentro.

Seja talvez por te ter figurado em demasia ou por te ter sentido sempre demasiado distante, procuro-te como me procuro a mim; com a mesma cadência frenética, com a mesma esperança deslustrada.

Talvez estas divagações sejam infrutíferas e o que eles queiram mesmo saber é onde é que eu vou depois do trabalho, onde é que me entrego às ocupações e obrigações da vida normal. Talvez te queira explicar por excesso e eles só queiram a minha terráquea morada!

(Não, não…Não vou perder esta oportunidade. Agora que estamos frente-a-frente não te vou deixar por resolver. Senta-te, por favor, temos sobras por conversar…)


Talvez por me teres dito sempre tão pouco
Por, paradoxalmente, me teres acompanhado tanto
Por te ter atulhado com os meus ideais brilhantes
Por seres só a realidade
Por seres a realidade
E por seres a minha realidade
Por ir ter contigo todas as noites
Por seres um acumulado de definições transcendentes que precisam necessariamente de fazer sentido
Por te ter(es) transformado num espaço tão menos físico que mental
Por te ter assumido como um armário de átomos exibicionistas de educações, costumes e tradições
Por te teres domiciliado na minha cabeça, todos os dias, todos os meses, todos os fins-de-semana.

Oh sim…. Os fins-de-semana!
Malditos, esses! Que me transformam numa eremita nómada
Que me tiram a identidade
E ma devolvem, um pouco mais tarde
Que vão brincando levianamente às casinhas
E esperam que eu os escolte
Que me atacam com um carinho sádico por tudo o que fui
O que serei e o que fiquei a dever

Que me transformaram num comboio em movimento
Num terminal de autocarros, numa mochila às costas
Em direcção a um qualquer êxodo cosmopolita
A um qualquer sítio mais confortável
Porque, ao fim de algum tempo, já todos os espaços fazem comichões.


Queria só explicar-te que já não tens o poder todo:
A minha casa sou eu, vazia dos teus materiais
Cheia da minha conduta, da minha moral, do meu lugar intelectual
Invadida pelas minhas nobres pessoas, esquizofrenias e afins
Preenchida pelos meus companheiros, pelas minhas pequenas vidas.

Agora, sinto-me livre…



Vem…. Vem culpabilizar-me à Rua do Ermo Ambulante, no Largo do Despovoado Nómada, no número variável da solidão, no Lugar da Magistral Alienação deste mundo perverso. Mas vê lá é melhor avisares antes, posso não estar em casa…

"O poeta é um fingidor"

Argumenta o poeta:

Não sou nada mais que um transformador de ocasiões
Rumino poeticamente o que se passa
Para que possa mecanicamente ser digerido.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Há dias

Estou demasiado farta de vos dever a vida
De não me zangar, de não vos chocar.


O tempo tratará do resto, tenho a certeza.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

FIBRA

Fraqueza de espírito
Falta de carácter, fibra (,) moral
Falta de não
De conduta, decisão

Necessidade extrema de fundo
Conhecimento de causa
De retorno, talvez

Objecção ao aprofundamento do espaço do tempo
Saturação, aceitação da índole rasca e banal das pessoas
Acomodação à desilusão e falta de expectação
Sobre o conhecimento a fundo da grande maioria de nós















Agora vou-me embora.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Eu visto as coisas assim




Porque hoje, como sempre, apetece-me arrotar alto e não pôr a mão à frente
Apetece-me beber uma cerveja ou duas, três, se calhar mais
Apetece-me dessarumar os naperóns e atentamente torná-los utilitários
Apetece-me comer arroz doce, leite creme, broa de milho e pastel de nata
Apetece-me um café pingado, com cheirinho, em chávena escaldada
Apetece-me cantar fado, usar um xaile, vestir-me de preto e melancolizar-me saudosamente
Apetece-me ser uma janela, um canteiro, uma velha janeleira ou uma varanda pombalina
Apetece-me tertuliar no Martinho da Arcada, na Brasileira ou no Machado
Apetece-me subir e descer a calçada portuguesa cinematograficamente as vezes que me der na real gana
Apetece-me jantar numa tasca um bacalhau à brás, uma carne de porco à alentejana, uma sopa de peixe
Apetece-me comer amêijoas ao fim da tarde numa qualquer praia civilizadamente deserta do Oeste
Apetece-me andar de eléctrico pela noite dentro
Apetece-me esperar autocarros indefinidamente e falar com todas as velhinhas da paragem
Apetece-me adormecer num monte alentejano e acordar numa casa de xisto do Piodão
Apetece-me, vejam lá!!, queijo da serra, requeijão com doce de abóbora
Apetecem-me alheiras, farinheiras, chouriços e linguiças
Apetece-me cenas de filmes paradas
Apetece-me provincianismo
Apetece-me acreditar em Deus e, honestamente, dizer "Até manhã se deus quiser", "Deus te abençoe", "Vai com deus", "Deus te proteja" e tantas que tais
Apetece-me dizer os provérbios e as mézinhas da terceira idade todos de trás para a frente
Apetece-me um baile popular, uma marcha de Lisboa e uma sardinha para acompanhar
Apetece-me vinho tinto com pão
Apetecem-me laranjas e doce de alfarroba
Apetece-me o baca em vez de vaca, o dezôito em vez de dezóito, o ide em vez vão
Apetece-me o raio que o parta, o caraças e a porra

Apetece-me ser Portuguesa em todo o meu explendor
Apetece-me sacudir-me de elitismos, academismos, extratismos e ser única e exclusivamente a minha naturalidade.

E sou-o, olha a merda!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Comunidade

Querem-me fazer sentir estúpida?
Querem-me apartar? Diferenciar?
Sacudir? Desocupar?
Conseguiram
Hoje ganharam