quarta-feira, 20 de julho de 2011

Conhecimento

Conhecemos as coisas, não como são, mas apenas como se nos apresentam (Kant).
A sociedade vulgarizou a sensação.
A vulgaridade da nomenclatura e do sentido de sensação  adquirida são as causas dos nossos pensamentos e sentimentos serem todos parecidos.
Um homem que viveu num país onde não existiam relógios, ao entrar numa região onde eles existem e ao ver um, pela primeira vez, sente duma maneira diferente de um natural desse país.
Daí, a inteira subjectividade do nosso conhecimento. (Idealismo subjectivo).
A matéria não existe - como matéria. Existe como matéria por intermédio dos nossos sentidos.
Para o rústico uma árvore é uma árvore; para um poeta é mais do que uma árvore. É mais ou menos assim que nós vemos a matéria com a nossa falta de percepção espiritual.
Assim como aquelas montanhas que, vistas de longe, parecem escarpas despidas e áridas, mas que vistas de perto não mostram rochas nem nenhuma aridez, antes pelo contrário vales e grandes extensões de terra lavrada.
Somos fracos espiritualmente, isto é: somos somente capazes de uma compreensão material, a não ser que usemos os nossos poderes mais vastos e profundos.
No entanto, trazemos em nós o poder de apreender a verdade - não verdade fenomenal mas verdade numenal. Afirmo agora, e afirmarei sempre, que ao homem escapou o mistério do universal somente por falta de vontade de pensar profundamente. Parece-nos uma falta - senão absoluta, menos dominável - que está sempre ligada aos mais fortes poderes de pensamento. Os maiores génios têm sempre esta falha.

Fernando Pessoa

o inferno são os outros

é a entrega que fode os relacionamentos, mas é também sem ela que estes não sobrevivem. com a entrega surge o compromisso, com o compromisso surge então o FORTE e o fraco. existe sempre o conceito do dominador e do submisso e nunca um equilíbrio estável de emoções e rotinas que balança os desejos animais e intrinsecos individuais e egoístas de cada um. é este caminhar lado a lado pela realidade que tira o brilho às sensações, ao tocar a relva, ao ouvir os pássaros, ao cheirar o mar, que quando estamos sós são sempre tão boas como da primeira vez e mesmo quando se tornam um hábito para connosco têm a capacidade de nos supreender. é este outro que transforma tudo numa obrigação de satisfação constante, de preocupação contínua, se está tudo bem, se está tudo no sítio e eu, que vim ao mundo sozinha e, creio, para ser sozinha, não me habituo a isto de a andar sempre a apanhar as peças a certificar-me que esta relação preenche todos os parâmetros estabelecidos por nós e por outrem do que é saudável e prescrito numa relação de determinados níveis de confiança e compromisso que entretanto já foram atingidos. e é precisamente neste ponto da conversa que me surgem à cabeça as tão convenientes palavras do meu pai "o inferno são os outros" porque senão fossem afinal os outros o que seria do inferno? Levanto-me, novamente, visto o meu fato do dia e preparo-me para começar mais um dia rodeada de outros...


Infelizmente

terça-feira, 19 de julho de 2011

homo homini lupus

segunda-feira, 11 de julho de 2011

God

Mrs. O'Brien: [voice over] The only way to be happy is to love. Unless you love, your life will flash by.
[silence]
Mrs. O'Brien: [voice over] Do good to them. Wonder. Hope.
(...)
Mrs. O'Brien: [voice over] Help each other. Love everyone. Every leaf. Every ray of light. Forgive.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

abominamos exponencialmente nos outros aquilo que não conseguimos suportar em nós.
conclusão banal, eu sei. mas é com banalidades que nos vamos suportando.

domingo, 3 de julho de 2011

Pedra papel tesoura

habituo-me a ter-te por perto e deixo-te crescer debaixo da minha pele.
permiti que entrasses dentro das minhas sinapses e sem rede desconstrui-me para que me completasses.
tu nem te fizeste rogado, entras-te por aqui a dentro e deixas-te abertas todas as portas atrás de ti...
eu, ser de complexas barreiras físicas e mentais, vim apressada fechá-las. mas não me deixas-te.
tu, como todos os espíritos livres, preferes a corrente de ar.
tu, como todos os espíritos livres, transformas-te a minha complexidade numa nova língua que eu pudesse entender mas que faço questão de não traduzir. porque sou teimosa, orgulhosa, novamente teimosa, novamente orgulhosa.
nós, então juntos, transformamo-nos numa nova identidade. com maneiras de estar, de ser com os outros, connosco, com pensares e conceitos envolvidos num erotismo muito próprio de quem já encontrou o seu espaço noutro alguém.
"para que essa nova identidade evolua há que a deixar caminhar por si pois até ela, como nós, tem os seus ritmos."  - reparo algures numa one-hit frase abandonada a um canto.
tu, como todos os espíritos livres, nem pareces contemplar - aparentemente - que me mantenho neste limbo entre o que sei ser correcto e o que procuro ser correcto. para mim. para nós.


E tu dizes-me "Pedra, papel, tesoura"
e eu divago: não pode haver quem ganhe. muito menos quem perca.