domingo, 1 de dezembro de 2013

Budapeste (mas aplica-se com certeza a qualquer outra parte do mundo)

Uma calma qualquer veio ocupar-se da urgência com que fazia as coisas. O que mudou, então, se as pessoas continuam fechadas em casulos, a sentirem-se paredes, a darem-se com outras paredes sempre menos espessas e fundas que elas próprias? Talvez nesta minha emersão na absorção das coisas tenha deixado os outros ficar para trás, nos seus caminhos estreitos e apertados que outrora me faziam tantas comichões. Mas se a minha hipotética aproximação à verdade essencial encerrada na insignificância de cada coisa me trouxe alguma estabilidade será desonesto convencer-me de que a existência vã de todos os outros me não interessa por aí além... Existe nos outros uma tragédia igual à minha. Que fazemos quando esta coisa que é estar vivo e ser nós se revela inconvenientemente nas nossas deambulações diárias? Em que abrigos nos acomodamos para adiar essa urgência de ser humano para momentos mais tarde onde a premência da pergunta é disfarçada por uma obrigação fabril de continuar vivo e ocupado? É a incómoda impertinência da razão que nos leva tantas vezes a renegar a única faculdade que nos poderá distinguir dos animais?

Não há nada que possa acrescentar ao mundo que ele em si já não contenha e até a minha vontade de escavar até ao fundo de todas as coisas está de uma forma mais ou menos tímida presente em todos os seres. Tenho pena que todas as músicas do mundo não sejam capazes de conter esta melancolia difusa que se ocupa de nós quando nos damos conta de que estamos vivos e de que seremos nós, para sempre.

Será o pensamento já uma manipulação da realidade ou apenas uma maneira amorfa de nos sentirmos participantes e conscientes do mundo sem, de facto, o sermos?