sábado, 20 de agosto de 2011

a pequenez

a pequenez é um estado de alma.
cresce-nos, por entre os dedos, a vontade reprimida de desdizer o outro e recalcar a elegância transmitida a ferros pela boa educação dos nossos progenitores. sussuramos, entre ouvidos, a vida de uma, os feitos do outro e as desgraças do próximo com o ombro que por um mero acaso se encontrar por ali e que também por um mero acaso tiver um ponto a acrescentar à história.
a pequenez é um estado de alma e propaga-se. se o deixarmos chocar ele deixa-se ficar e entranha-se aos poucos nos recantos do nosso, já de si rarefeito, intelecto. a pequenez é um estado de alma e propaga-se tal e qual como o boato e o mexerico de ombro em ombro de ouvido em ouvido.
a pequenez é um estado de alma. é um estado de alma a pequenez que nos deixa mais pequenos logo de pequenitos. logo de pequenitos brincamos ao pequename com a pequenada e é assim de pequeninos que nos criam na cultura da pequenez. de geração em geração, passam o gene da pequenez acabrunhada, mesquinha, picuinhas, infame, vil e maldizente e assim vão nascendo pequenas crianças mais acabrunhadas mesquinhas picuinhas infames vil e maldizentes que a pequenada com a pequenez anterior.
e é assim que a pequenez se propaga num estado de alma pequenino, pequeno e pequenote que agrada a todo e qualquer portuguesote.
e o português que não é pequeno, é o português que sonha demais - acusam-me eles apontando para o alto do meu pedestal.

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