domingo, 28 de março de 2010

Dislexia III - Narrativa Aberta

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quarta-feira, 24 de março de 2010

Nada do que eu faço chega à essência do que eu preciso

segunda-feira, 22 de março de 2010

sábado, 20 de março de 2010

"Estou além" António Variações

Não, eu não vos posso obrigar a perceberem-me....

A verdade é que vendo-me a muito poucos
Eu vivo de Conversas de acções
E não de contextos ou adequações necessárias

A verdade é que a sociedade é um ser difícil
Ela faz-te germinar seres que não existem
Empapar teorias em modas sociais
Aceitar qualquer tipo de facção dissuasora por um mero pretexto integrador

A verdade é que não vos posso obrigar a perceber
Que aquilo que vos entusiasma nem sempre é suficiente para mim
Ou porque já o vivi directamente
Ou porque, na grande maioria das vezes, já o desconstruí mentalmente
O meu cérebro é uma máquina de desfiar realidades.

A verdade é que não devia deixar que tantas pessoas tivessem acesso, ainda que involuntário, às minhas saídas de emergência.

Mas fui eu que criei o monstro.

A fragilidade é toda minha, AAAH como vos invejo a superioridade!...

quinta-feira, 18 de março de 2010



Narração por João Villaret

quarta-feira, 17 de março de 2010

Metro

Sentaste-te mesmo à minha frente. O teu corpo remexia-se constantemente, estavas desconfortável, todos os teus gestos eram comedidos e recalcados, o teu corpo estava inerte apesar da aparente agitação. Olhavas-me como se fosse a primeira pessoa que viste na vida e nunca te cansavas. Analisaste-me e descreveste todos os meus pormenores na tua mente ocupada.
Encaraste a minha testa nervosa, sobrancelhas inquietas, prosseguiste para os meus olhos, brilhantes e duvidosos - pensaste - Ela tem medo!, saboreaste o meu nariz com todo o preceito de quem se apodera de algo, bochechas inevitavelmente rosadas, preguiçaste-te à chegada aos meus lábios desenhando-os com palavras e observações, depois desta diletante demora deste por terminada a familiarização.

Preciso de uma faca e de um garfo. Quero partir todos os teus sentidos e levá-los para casa, vou saboreá-los mais tarde...Vais saber-me a vinho e vou-te comer a cada trago. Os teus olhos chamam-me, os teus olhos chamam-me.

Não tenhas medo, amiga, isto é um sítio público. Os nossos corpos estão frente a frente mas nunca vão ultrapassar a distância higiénica destes dois bancos. Eu sei o que sentes entre as pernas, os teus olhos estão nus e deixam-me perceber o calor que te rompe as entranhas, a vontade que tens de me encostar contra uma parede e fornicar-me alegremente Ttt Ah Ah mas os meus olhos mordem-te!

Sou fraca, não me ofereces nenhuma primeira mão. O teu magnetismo e a minha nudez começam a tornar-se insuportáveis e as pessoas continuam a entrar, passam por mim, POR NÓS, e procuram lugares com as suas corcundas de ratazanas agitadas ao fim da tarde. Ia jurar que era de noite!

Imagina esta lata de metal, perdida naquele espaço preto onde viaja, só para nós. Seriamos sempre nós sem tempo porque ele deixaria de existir ao perdermo-nos interminavelmente nele sem espaço porque o espaço preto seria perpétuo sem portas a abrirem-se informando chegadas.
Se tudo acontecesse assim tudo podia acontecer assim. As pessoas, o tempo e o espaço estavam mortos. E nós proclavamos a vida na nossa efusão de profanações!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Se a população da Terra fosse reduzida a uma pequena vila de 100 pessoas, poderia observar-se a seguinte distribuição:

52 seriam mulheres,
48 seriam homens.

30 seriam crianças,
70 seriam adultos, e destes,
7 teriam idade avançada.

90 seriam heterossexuais,
10 seriam gays ou lésbicas.

70 seriam não brancos,
30 seriam brancos.

61 seriam Asiáticos,
13 Africanos,
13 da América do Norte e do Sul,
12 Europeus,
1 seria do Pacífico Sul.

33 seriam Cristãos,
19 acreditariam no Islamismo,
13 seriam Hindus,
6 seguiriam os ensinamentos Budistas,
5 acreditariam no espírito da natureza.
24 acreditariam noutras religiões,

17 falariam Chinês,
9 Inglês,
8 Hindi e Urdu,
6 Espanhol,
6 Russo, e
4 falariam Árabe.
Isto somaria metade da vila.

A outra metade falaria Bengal, Português, Indonesiano, Japonês,
Alemão, Francês, ou alguma outra língua.


Entre as 100 pessoas desta vila,
20 seriam subnutridos,
1 estaria morrendo à fome, enquanto
15 estariam acima do peso normal.

Da riqueza desta vila,
6 pessoas possuem 59% (sendo todos dos EUA),
74 pessoas possuem 39%, e
20 pessoas dividem os 2% restantes.

Da energia desta vila,
20 pessoas consomem 80%, e
80 pessoas dividem os 20% restantes.

75 pessoas teriam uma casa e comida, mas 25 não.
17 não teriam água limpa e segura para beber.

Entre os moradores da vila,
1 teria educação superior.
2 teriam computador.
14 seriam analfabetos.

Se podes falar e agir, de acordo com a tua fé e a tua consciência, sem
perturbações, aprisionamento, tortura ou morte, então tens mais
sorte que os 48, que não podem.

Se não vives com medo de morrer por bombardeamentos, ataques
armados, campos minados, ou de sequestro por grupos
armados, então, és mais afortunado do que os 20, que vivem com medo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Requiem for a dream

Todas as noites fumo o cigarro da minha janela.
todas as noites vejo a outra janela
com luzes azuis neon
zapp zapp ing zapping
nunca se desligou,
a televisão.

Só imagino velhas sentadas
com rabos podres e quadrados
em sofás mais carcomidos que o tempo da sua idade
com a forma dos seus quadrados rabos nas almofadas
de pele coçada por todas as hemorroidas de solidão
e solitárias que lá se sentaram todos os dias

velhas a comer merda
a ver lixo televisivo
só porque faz barulho
e foi a melhor companhia que o homem inventou.

A essa velha, da janela à minha frente,
só lhe vi as luzes...
Deve ter uma cara marcada com rugas de madeira
e ossos bem chupados
Droga-se com aquele esterco todas as noites, porque à noite
o silêncio toma conta da casa.

O silêncio é um mau amigo

Ela empanturra-se com aqueles brilhos
De felicidade falsa
E é feliz!

terça-feira, 2 de março de 2010

"(...)
sem que eu soubesse, os anos passavam na casa. sem que eu
soubesse, a minha mãe e o meu pai envelheciam. a casa era
toda de claridade e eu não sabia que iria envelhecer assim que
saísse de casa.

havia janelas e havia portas. eu subia para cima de cadeiras
para abrir as janelas. da janela do meu quarto, via o mundo.
sei hoje que poderia ter vivido sem mais mundo do que esse.

sei hoje que transformei o mundo todo nessa casa. chamo a minha
mãe. está num dos quartos de cima. está muito longe. chamo o meu
pai. está muito longe."

JLP