Lisboa, 12 de Janeiro de 2009
Mãe,
Qualquer coisa que te diga nunca vai ser suficiente. Assim, digo só isto: amo-te.
"Mãe, tenho pena.
Esperei sempre que entendesses as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz. Sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.
Pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.
(...)
Lê isto: mãe, amo-te.
Eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não escrevi estas palavras. Sim , mãe, hei-de fingir que não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não as leste. Somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes."
Gostava que soubesses o quanto gosto de ti, porque, grande parte das vezes, és dás únicas pessoas que me devolve o sentimento. Gostava que soubesses a tristeza que sinto sempre que me vou embora mas nunca choro, mãe, não à tua frente. Gostava que soubesses a angústia que sinto cada vez que sei que vais passar a semana sozinha. Mas nunca telefono, mãe. Gostava que soubesses como sinto a casa fria e vazia de cada vez que vais embora. Mas nunca te digo, mãe.
"Mãe, eu sei que ainda guardas mil estrelas no colo. Eu, tantas vezes, ainda acredito que mil estrelas são todas as estrelas que existem." Se eu pudesse acreditar nisso para sempre...
Assusta-me saber que para atingir o que quer que seja tenho que lutar, que estou a crescer e que a partir daqui só vai ser mais complicado. Apesar de todas as minhas tentativas de emancipação e rebeldias precoces, assuto-me sempre que percebo que agora estou por mim e que o que quer que tenha que enfrentar agora será, cada vez mais, sozinha.
Mas obrigada, mãe. Eu sei que muitas vezes assustada, também, nunca desististe de fazer o que achaste melhor para mim. Mesmo com todas as nossas argumentações invalidas e com todos os nossos choques de personalidade, nunca duvidei do teu amor.
Por todas as tuas tentativas, pela tua resistência, por toda a compreensão, por todas as discussões quero agradecer-te. Há tanto teu em mim, mãe, depois de todos estes anos só gostava que percebesses que apesar de sermos muito iguais somos muito diferentes.
Não há nada mais que possamos fazer, mãe....