Conhecemos as coisas, não como são, mas apenas como se nos apresentam (Kant).
A sociedade vulgarizou a sensação.
A vulgaridade da nomenclatura e do sentido de sensação adquirida são as causas dos nossos pensamentos e sentimentos serem todos parecidos.
Um homem que viveu num país onde não existiam relógios, ao entrar numa região onde eles existem e ao ver um, pela primeira vez, sente duma maneira diferente de um natural desse país.
Daí, a inteira subjectividade do nosso conhecimento. (Idealismo subjectivo).
A matéria não existe - como matéria. Existe como matéria por intermédio dos nossos sentidos.
Para o rústico uma árvore é uma árvore; para um poeta é mais do que uma árvore. É mais ou menos assim que nós vemos a matéria com a nossa falta de percepção espiritual.
Assim como aquelas montanhas que, vistas de longe, parecem escarpas despidas e áridas, mas que vistas de perto não mostram rochas nem nenhuma aridez, antes pelo contrário vales e grandes extensões de terra lavrada.
Somos fracos espiritualmente, isto é: somos somente capazes de uma compreensão material, a não ser que usemos os nossos poderes mais vastos e profundos.
No entanto, trazemos em nós o poder de apreender a verdade - não verdade fenomenal mas verdade numenal. Afirmo agora, e afirmarei sempre, que ao homem escapou o mistério do universal somente por falta de vontade de pensar profundamente. Parece-nos uma falta - senão absoluta, menos dominável - que está sempre ligada aos mais fortes poderes de pensamento. Os maiores génios têm sempre esta falha.
Fernando Pessoa
tudo a borbulhar
Há 3 semanas