domingo, 1 de dezembro de 2013

Budapeste (mas aplica-se com certeza a qualquer outra parte do mundo)

Uma calma qualquer veio ocupar-se da urgência com que fazia as coisas. O que mudou, então, se as pessoas continuam fechadas em casulos, a sentirem-se paredes, a darem-se com outras paredes sempre menos espessas e fundas que elas próprias? Talvez nesta minha emersão na absorção das coisas tenha deixado os outros ficar para trás, nos seus caminhos estreitos e apertados que outrora me faziam tantas comichões. Mas se a minha hipotética aproximação à verdade essencial encerrada na insignificância de cada coisa me trouxe alguma estabilidade será desonesto convencer-me de que a existência vã de todos os outros me não interessa por aí além... Existe nos outros uma tragédia igual à minha. Que fazemos quando esta coisa que é estar vivo e ser nós se revela inconvenientemente nas nossas deambulações diárias? Em que abrigos nos acomodamos para adiar essa urgência de ser humano para momentos mais tarde onde a premência da pergunta é disfarçada por uma obrigação fabril de continuar vivo e ocupado? É a incómoda impertinência da razão que nos leva tantas vezes a renegar a única faculdade que nos poderá distinguir dos animais?

Não há nada que possa acrescentar ao mundo que ele em si já não contenha e até a minha vontade de escavar até ao fundo de todas as coisas está de uma forma mais ou menos tímida presente em todos os seres. Tenho pena que todas as músicas do mundo não sejam capazes de conter esta melancolia difusa que se ocupa de nós quando nos damos conta de que estamos vivos e de que seremos nós, para sempre.

Será o pensamento já uma manipulação da realidade ou apenas uma maneira amorfa de nos sentirmos participantes e conscientes do mundo sem, de facto, o sermos?

sábado, 17 de agosto de 2013

É sob a luz frouxa e macilenta que vejo as veias da miúda a aflorar cada vez com mais vigor no espelho da casa de banho. O queixo começa a tremer-lhe enquanto a miúda se esforça por escovar os dentes. O vidrado que antes lhe cobria os olhos estende-se agora pelo tecido rubro que lhe tolda o crânio. As veias cada vez mais grossas traduzem em suor o esforço sisífico de tentar escovar os dentes ao mesmo tempo que se chora sem conteúdo ou contenção.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

uma equação simples

Observo em mim uma capacidade cúbica de odiar o mundo elevado a mim.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

"Being an intellectual creates a lot of questions and no answers. You can fill your life up with ideas and still go home lonely. All you really have that really matters are feelings."

quarta-feira, 6 de junho de 2012

a virgem

as pessoas conhecem-se pelos rótulos. acima de tudo pelos rótulos, eu acho. conheci uma miúda a quem de imediato já chamava virgem. tudo nela era virgem mas principalmente a sua cona, eu acho. a sua cabeça ainda que cheia de pensamentos sádicos e mórbidos funcionava de uma forma pura e transparente. a vida é justa, as pessoas são boas e quando faz sol fico contente, o habitual, eu acho. sem quaisquer precedentes negros ou violentos a virgem idealizava, de forma ingénua, situações extremas onde passava mal. era a sua maneira de se desflorar mentalmente, eu acho. o mundo dá pontapés, a ela só lhe chegavam festinhas mas ela queria à força ser espancada. no fim de todas as idealizações a virgem agradecia a Deus, como lhe ensinaram que devia agradecer, por os pensamentos não se ouvirem. o azar da virgem foi um dia conhecer-me, eu acho. enquanto ela me falava, de uma forma inconscientemente eclética, da escola, dos pais e do quotidiano, eu observava o touro negro que lhe inteirava o cérebro.

e o touro disse-me, com os olhos:

"a virgem deseja ser violada por alguém que lhe rebente a virgindade. para que tenham pena dela, eu acho."

terça-feira, 15 de maio de 2012

3

era uma miúda pejada de animas. ela sempre disse "ando cheia de animais". ao peito tinha um mocho e um pinto. ao ombro um elefante e, quando acordava todos os dias, gritava "bem-vindos à selva".

2

um senhor sem um dente pede um maço de tabaco de enrolar. engana-se. é tabaco para cachimbo. então, tira do bolso uma goiva e, com bocados do balcão, faz um cachimbo. ao fundo, ouve-se iggy pop e ele gosta.

1

uma rapariga com joaninhas tatuadas no braço senta-se num balcão em U. pede amendoins. come amendoins.
come um quilo de amendoins. a seco.
tosse. as joaninhas, com sede, emterram-se um pouco mais fundo na pele. depois, desaperecem, desidratadas.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Many people are extremely happy, but are absolutely worthless to society. ~ Charles Gow

bula 1

coloque um ácido de maneira cómoda entre a língua e o céu da boca. sem pressas, espere que este se derreta. depois proceda a todas as suas normalidades rotineiras e encontre-se por acaso com um colega de trabalho no supermercado.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

“...colleges being nothing but grooming schools for the middleclass non-identity which usually finds its perfect expression on the outskirts of the campus in rows of well-to-do houses with lawns and television sets is each living room with everybody looking at the same thing and thinking the same thing at the same time while the Japhies of the world go prowling in the wilderness...”
soubesses antes que a sua natureza é apenas possível de aceitar, nunca de quebrar. procurasses mantê-la viva e com vontades por entre as neblinas de meia-noite dos seus espíritos. enquadrasses, como enquadramento, os seus desejos carnais com a moldura rectilínea das suas pulsões negras intelectuais. talvez devessses ter percebido mais cedo, pela tua sanidade, que ela era indomável e por isso miserável. pesava-lhe a existência como os malditos nós que lhe atormentam as costas e que tu, apenas quando forçado, massajavas sem vontade como quem amassa rissóis. ela persistiu, eterna, na dúvida de se escolher a si ou 

quarta-feira, 28 de março de 2012

o q eu ouvi na televisão:

"prefiro pessoas com mau feitio e bom carácter"
"do que pessoas com bom feitio e mau carácter"
no Lugar da Magistral Alienação deste mundo perverso

a ilha

estou velha e vocês fazem-me morta.
que morram vocês e deixem-me viver
sozinha.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

o problema da democracia é que é altamente anti democrática.a livre expressão é pesadamente controlada.
a circulação de ideias, pessoas, informações provoca a anulação da possibilidade de movimentação de uma massa.
uma massa é um grupo de muitas pessoas.
um movimento é uma massa com um objectivo comum.
demasiado urgente
temos que começar
já está a começar
tenho marcas de viagens que já começaram nos dedos
falta pô-las nas ruas, nas paredes
que se foda a internet
ahahahahahahahahhhhhhhhhhhhhhh

talk hard

enquanto me afasto da ideia em que acredito que me entendo procuro encontrar algum futuro para além do que se passa amanhã porque me obrigaram. todos procuramos o mesmo, uns nos outros em nós no mundo e nos animais, e não somos nunca capazes de o atingir por estarmos demasiado ocupados em ter piedade de nós próprios auto condescendencia porque eu sempre porque eu? porque nao nos? nao me intererssa sinceramente o que fazes para procurar chamar a atenção porque apesar de talvez nao o ter feito da mesma maneira q tu também já a procurei e continuo a fazê-lo. é preciso como sempre que alguém, sem liderar, lidere um movimento. como ouvi dizer que passe a mensagem do que todos procuramos dizer sem o dizer. ando a tentar arranjar uma maneira de criar movimento, entrer todos e para topdos pois esta e aunica maneira possivel de o fazer. o sistema sempre o sistema que nos assassinou todo o fusível e incapacitou de pensar. não procuro arranjar mais nenhum bode expiatorio nos ja nascemos assim não me interessa, tá tudo fodido, fodasse, nem quero saber. nem eu.
fodasse, nem eu.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

droguem-me com drogas vendidas por drogados a drogados em drogarias legais.
este sufoco que sufoca o sufocado cheira a veneno de ladrão autorizado.
não me leiam as bulas, não me leiam as bulas!

as personagens desta aldeia já me dão vómitos

isto é um jogo de seringas onde pessoas vestidas de branco te picam as veias para ver se acordas.
só os oiço ao longe, como a toda a gente.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Percepção

À noite as galinhas são mortas
todo  o barulho é um barulho
e elas vão gritando em agonia.
Cães desbravam as suas gargantas
com caninos afiados e elas
vão gritando como fazem
todas as manhãs.
Mas na cidade
ninguém as ouve.
Ouvem apenas os seus
próprios pensamentos a fazer
ricochetes em almofadas que
eles orgulhosamente construíram
com caroços de cerejas.
Há um galinha a esvair-se em sangue.
Não sei onde ela está
nunca a poderei acudir,
em todas as auroras.
Ela não se cansa
parece os travões de um carro
sem travões ao longe.
Entretanto doem-me os dentes
enquanto todo o meu corpo
cheira a podre.
À volta, as casas da cidade
desconstroem-se como um cenário.
Há uma pessoa que nos controla por fios
e é então que percebo que só o faz
pelo prazer do voyer que há em si.
Sempre, achei, que odiava
a civilização com as suas luzes e betões armados
mas agora que espero que o dia nasça
acho que sempre fez sentido.
Os meus dentes doem-me
em breve
cair-me-á a bochecha
e eu, sozinha, de noite,
espero cinicamente pelo dia.
Agora, ele começa a nascer.
É a hora dos pássaros,
eu sei que são eles mas
a mim
parecem-me guizos
omnipresentes.
Calem-se galinhas
POR FAVOR!
O MEU CORPO NÃO
DESCANSA.

O MEU CORPO NÃO
DESCANSA.

O MEU CORPO NÃO
DESCANSA
ENQUANTO VOCÊS NÃO
SE CALAREM
POR FAVOR!
(o pequeno imperador dos ovos é o último a cair)
Chegaram os pássaros, vê
se percebes,
chegaram os pássaros.

silêncio
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pássaros
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A cidade nunca dorme.
Estive desde sempre trancada
no meu corpo.
O tempo não existe
estou presa dentro dele.
O tempo é uma invenção
exclusivamente nossa
para nos masturbarmos
sem culpa (cristã).
Amanhã é um dia mas estou,
presa,
à espera de o ver começar.
Então, onde é que
existe o tempo?
No lugar onde não existirem
pequenos anõezinhos
a espiar-nos
com a secreta esperança que
fiquemos na corda bamba
da sua regular normalidade.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

pussy

era muito mais fácil quando nem esperavam por mim.
era tão mais fácil se não esperassem de mim.
mas esta realidade não é fácil, é para isso que existem as drogas.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011




"You make everything...groovy

I said Wild thing

Wild thing, I...think I love you



But I wanna know for sure

So come on, and hold me tight"

verdete

cheira mais a merda aqui que em qualquer lado.

esta gaiola rebenta de feno que apodreceu.

tu também sabes a feno que apodreceu e porque te nasce bolor em todos os poros delicia-te trancares-me.

sabes que o cérebro também precisa de rotatividade e o bolor costuma pegar-se.

na fraca imprevisibilidade das tuas rotinas, quando olhares para o lado e depois olhares em frente vais encontrar a porta aberta.

entretanto o pássaro voou e lá de cima, onde és tão pequena, ele ri-se pois até o sabugo das unhas te levou.
tas-me a consumir, tás-me a consumir.
dou-te uma trinca mas nunca desapareces.
acho que desconheces o conceito de privacidade

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

aurora boreal

o tempo é uma invenção,
do que não existe,
que não existe.

tendo calma conto
os segundos da convenção
eles, contam, ao ritmo deles.

eu, invento novos segundos, novos minutos
e outros separadores de tempo
como os cigarros.

quando amo
não existes
porque não deixo.

tu não me deixas
e chamas-me para jantar
a carne está sempre fria.

quando paro para pensar
que a carne está sempre fria
demoro-me a perguntar se esta convenção já existia.

o céu já foi construído hoje?
não o organizes
não és natural.

afasto-me do que chamam rotina
tu não me deixas
não me deixas.

achas que nasceste para viver assim?
sempre preso a um centro
sempre rodando num círculo.

o sol vai transformando a luz
a luz transforma-se numa outra luz
e tu ficas, eternamente, preso.

se és eterno, eternamente
reinventa-te, eternamente
a rotina mata-te internamente.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

ser rude

fodes-me, toda, a vida com um caralho que passou a vida enfiado em gordas.

abaixo demonstração do meu pequeno cérebro drunfado

.

colagem

portas,como,um corpo.em tons de suicídio batem, a cair do nono andar............. como se fossem portas um corpo bate quando cai do nono andar............como tons de suicídio se fossem portas a cair do nono andar.......a cair do nono andar um corpo, batem portas em tons de suicídio............. suicídio do nono andar, batem corpos como portas.

e pedes-me para amar como a estrada começa?

a escola

no meu cérebro ouvem-se moscas.
diz que é da falta de actividade.
eu já nem me dou ao trabalho de dizer que não.

sábado, 19 de novembro de 2011

Miopia Legalizada

caminhamos todos os dias nesta realidade pouco ou nada conhecida. relatamos pormenorizadamente os nossos dias para garantirmos que servirão de base a futuras sociedades sobre-humanas que sinceramente nem um tusto darão sobre o que construíste, amigável ser humano. vives com a consciência de que o teu esforço diário para ultrapassar a tua mediocridade é um saborzinho a evolução, sabes também que no fim do dia é ele que te satisfaz.  Mas nem o saborzinho é real. Tu só sabes o teu nome porque te chamam. Um cão só te conhece por te cheira e ainda assim tu insistes em chama-lo. Ele não se organizou como tu, felizmente, ele ainda existe numa vasta comunidade de iguais que o cheiram também, ele ainda cheira para conhecer, ele ainda monocromaticamente te vê para te atacar. Tu crês que por chamá-lo o forças a ser igualzinho a ti, mas ele continua a cheirar-te e um dia, depois de o educares segundo as regras da inexistente sociedade democratica e politicamente correcta em que pensas habitar, ele ataca-te de frente quando o fitas. Tu, homenzinho adorável, achas o ataque uma afronta ética à tua moralidade, mas tu, homenzinho adorável, não sabes nunca atacar ninguém de frente.
Pensas-te observador da realidade concreta, mas a verdade que tu não enfrentas é que o facto de organizares os teus conceitos como um míope te torna um imperfeito desconstrutor da realidade. Desconstrutor? - perguntas-me. - Parece-me interessante. Não, homenzinho adorável, tu não és um desconstrutor eficiente és apenas mais um condicionado. Desconstróis, segundo crês, com as tuas tecnologias avançadas mas apenas à tua medida, exactamente da mesma maneira que só sabes o teu nome porque te chamam. Todas as noites cheiras o sexo da tua mulher e não imaginas a que sabe. É em todas essas noites que a seu lado numa quérquera ilegal mas consentida idealizas mulheres robustas emanadas dos teus mais sádicos e recalcados fetiches. É nessas noites também que não consentes olhar para o lado e pôr em prática essas alucinações, pois o que é real está ao teu lado. Não, não - dizes-me - o que é real está na minha cabeça, onde vocês existem e são maus. 
Não me construas fachadas à espera que eu acredite, a tua decomposição da realidade nunca é acidental porque tu não o permites, és pouco natural e só sabes fazer o que te ensinam. O teu cérebro ganha bolor pela sua utilização rotineira, tu és um pequeno animalzinho de hábitos e acreditas que o bolor, como a morte, faz parte da vida. Tu copias com os olhos. Não copies com os olhos. Não copies com os olhos! Não copies com os olhos! Concentra-te, concentra-te a fundo, esquece por momentos todos os séculos de humanizada civilização que te proporcionaram e aprecia o caos. Entrega-te, todo, como nunca fazes. Depois, procede reflectidamente a uma acidental decomposição da realidade. Depois, procede a uma interiorização do "caos dos fenómenos visíveis que enchem o espaço". Depois, procedes, em último, a uma concentração da decomposição. Agora, homenzinho amigável, és livre e aberto a infinitas possibilidades.....



Mas não me leves a serio, ser humano, acho que o cérebro é um orgão sobrevalorizado.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

"que bom ser pequenino"

sexo,s

vá lá vá lá. os meus pulmões cinza não suportam, cansados, o respirar ofegante deste exercício carnal de superioridade. vá lá dizes-me em cima, em cima do mundo, do teu e do meu; comandas a viagem. depressa dou uma volta e agora sou eu, a dona do horizonte e de todos os seus perversos subúrbios, com a força de um animal que em mim desconhecia ataco-te ao ritmo que os meus pulmões cinza me permitem. vá lá vá lá vá lá vá lá vá lá gritam eles sofregamente.
se calhar é mesmo assim. não sou suficientemente grande e capaz para ganhar o prémio da superioridade.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ser excêntrico

é vê-los assim todos de braço dado a esforçarem-se por se assumir. são todos tão diferentes, tão diferentes uns dos outros, que só as suas frases fora do comum conseguem manter as suas peculiaríssimas personalidades. eu não tenho dor, não por vocês. já não tenho nem a expectativa nem a tolerância de outros passados para conseguir ser condescendente com aquilo que não posso impedir.o meu olhar clínico e julgador apenas pretende revelar-vos o melhor de vós.... Vejo tanto potencial no mundo mas tantas cabeças pequenas que às vezes creio que sou eu que tenho uma concepção de sociedade demasiado distante de tudo.